terça-feira, 5 de setembro de 2017

A vida cabe numa taça de Margarita

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS



Uma das pequenas delícias do amor é se botar de quatro na cama , esticar o braço para pegar qualquer coisa na mesinha de cabeceira , vestindo apenas calcinhas de rendas. Se elas estiverem levemente esgarçadas , melhor ainda. Dão um certo ar blasé , estilo "estou nem aí para esta coisa de roupas novas , calcinhas impecáveis e mais uma série de itens que fazem a cabeça das mulheres comuns".

Gosto de esticar bem o corpo , empinar bem as nádegas só para merecer um beijinho ou uma mordiscada no bumbum, sem passar horas na academia. 

Gosto de todo o caos mais ou menos organizado que ronda o quarto de um casal. Certas repetições , alguns lugares comuns que fazem parte do mise-mise-en-scène da vida a dois.  Eu finjo estar pegando alguma coisa ( ou estou pegando mesmo) e ele me morde com o vigor de um gesto novo e eu me surpreendo com a risada de sempre. 

Gosto de toda a rotina meio bagunçada que ronda a intimidade de um casal. Certas surpresas , pequenos imprevistos que fazem parte do frenesi do estar junto. A gente muda de planos no minuto final e de repente a vida cabe numa taça de Margarita.  Fica tudo com gosto de tequila queimando a garganta, um salgadinho nos lábios da alma sussurrando "Quero um gole a mais...". Mas precisa ser um daqueles bem longos! 





























































Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.










6 comentários:

  1. A vida cabe numa taça de ousadia.
    Ao entrar no teu texto, te pego de quatro, braços esticados, parece querer pegar algo...

    Iniciar um texto mediante imagens remete a culto. Nesse caso, o próprio. A reconstrução, antes secreta, agora exposta, é emancipação. O Ritual – esticar, empinar, apresentação do templo: o caos; as repetições e as rotinas, a taça – antes magia diluída, assume, como linguagem lírica, perspectiva artística , com o intuito unicamente dialético: estética e devoção.

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  2. Todo esse prazer na intimidade de uma vida a dois, na bagunça, no caos gerado...O abrir-se de quatro afirmando sua liberdade...
    O gole a mais e longamente demorado exprime o desejo e a profundidade impossíveis de serem alcançados nas relações, restando apenas a insaciedade de buscá-las sempre mais em outros corpos.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. A única insaciedade existente em um amor dionisíaco, é justamente querer repetir a dose da companhia. O efeito entorpecente não está apenas no copo de marguerita.
      o coração pulsa freneticamente,os olhos dilatam as pupilas, um mecanismo idêntico á cocaína.
      O amor é cocaína, e cocaína sem alcool é romeu sem julieta!.
      É alcólatra sem cigarro
      É fumante sem esquero
      É bebado sem cachorro

      Ao baco e aos deuses nós devemos festejar, e que toda insanidade nos traga o elixir do universo.
      Embriagai-vos! Tolos inúteis! De que sentido tem a vida? Senão o prazer e a felicidade?

      Apolo sempre foi aquele nerd da escola que não soube curtir bem.
      Dionísio sempre foi o cara imoral, só que... este tinha um amor pela sua existência!

      Dica - Nietzsche - o nascimento da tragédia :D

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