segunda-feira, 22 de maio de 2017

O que transborda...

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS



Têm coisas e pessoas e sentimentos que transbordam. Do resto, pouco ou quase nada entendo. E nem quero entender. Por mais que diga que sim. Sim, tenho o meu lado dissimulado quando finjo para mim mesma que compreendo  o medo alheio ou que me escandalizo com as suas ideias insólitas numa mesa de bar. 

Sempre senti certo respeito desdenhoso por aquilo que não extrapola , por aquilo que não salta aos olhos. Por aquilo que não agarra a jugular querendo beber até a última gota da alma alheia.

Desprezo abraços frouxos , sentimentos incapazes de gritar , de gemer , de gozar . Desprezo as máscaras bem comportadas de quem não consegue se dar.  Muito menos receber. Não há nada mais apequenado do que recusar o gesto louco alheio. Quem não tem senso de humor  para tecer as suas redes, ao menos ria da piada feita. 

Gosto de pessoas que escutam a música e se põem a dançar. Ou que dançam mesmo sem ouvi-la. Este é o maior ato de fé. 

Gosto daqueles que fluem rumo aos outros. Gosto de pessoas despudoradas , que se rasgam em confidências imprudentes, indecentes. Gosto de quem apanha 70 x 7 vezes e ainda mostra o rosto cheio de empáfia. 

Desprezo os que usam as porradas anteriores para justificar a própria covardia , a incapacidade de dançar nu na chuva ao som de uma canção imaginária.  Levar na cara e chorar e sorrir ao mesmo tempo , engolindo o sangue juntamente com a esperança de qualquer coisa abstrata é para os fortes.  

Não, não entendo as armaduras. Dizer que entendo faz parte do meu teatro barato.  Mas diante das minhas paredes internas revestidas por espelhos, onde me ponho nua e desbocada , rio estridentemente , viro quase um demônio,  sem nenhuma compaixão por estes zumbis que empacam as ruas da alma, cortando o fluxo dos rios da criatividade.  Cortando o fluxo de tudo aquilo que existe de mais genuíno, intenso e medonho.  



















































Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.













Nenhum comentário:

Postar um comentário