quinta-feira, 11 de maio de 2017

Escultura viva

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Sinto-me cansada. Profundamente cansada. Um cansaço de alma. Minha boca cansou de pregar no deserto, de dizer o que a poucos ou a quase ninguém interessa ouvir.

Queria dormir . Um sono longo. Durante milênios. Acordar numa nova Era. Na Era do caos poético , onde pudesse comprar um sanduíche fazendo uma rima e cada frase simples soaria como uma declaração de amor  sussurrada ao pé do ouvido em uma noite fria , a fumaça do cigarro dançando diante dos meus olhos , me envolvendo em seus braços , me levando para terras distantes.

Queria viajar para fora da mesmice, do lugar comum, do pensamento positivo, do nota sete está bom. Queria viajar para fora do banal e sentir gosto de festa a cada olhar.

Queria ser surrada por palavras inesperadas, por sonhos que extrapolassem o desejo de comprar uma casa. Queria brincar de faz de conta , ser mil personagens e fazer uma caricatura de mim mesma ou daquilo que imagino que eu seja.

Queria viver de amor e poesia e prosa no portão, num fim de tarde mágico, onde as cores do céu formassem um quadro abstrato e me sugassem e te levassem comigo para um plano de ousadia.

Queria criar asas na alma , sair voando de olhos fechados , deixando para trás tudo aquilo que não me pertence e que insiste em me agarrar nesta terra pobre, sem imaginação, de olhos parvos e opacos. 

Queria me fazer arte , uma nota solitária de uma melodia , o verso final de uma poesia , a pincelada transgressora numa tela nua, um movimento de câmera estranho que me partisse em duas...

Estou cansada...profundamente cansada. 






































Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.












4 comentários:

  1. No 1º e no 2º dia ela disse: façam-se as cores e as formas! No 3º e 4 dias: façam-se os sons e os movimentos! No 5º ao 6º dia: cheiros e sabores!
    Após construir Poeticaos, estava cansada. A cidarte não tinha muros. As ruas eram de proesias. E só vivia ali quem tinha almaginação.
    No 7º ela reclamou. Estava cansada. Profundamente cansada. Guardou os apetrechos de artesã. Tirou a roupa. Seu corpo ainda tinha respingos de várias cores. Me ligou. Exigiu minha presença. Antes do pôr do sol. De Utopia à Poeticaos demora um tele transporte. Chafurdamos nos restos da criação. Debulhamos versos de má-criação. Extenuada, até hoje, dorme em meus braços.

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    1. Vc não existe , Leoncio...rsrs acho que os seus comentários são uma imaginação, fruto do meu desejo infantil de ver o mundo revertido em poesia!

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  2. ... Eu queria poder encontrar lá fora pessoas mais intensas. Que não precisasse beber ou usar nada pra falar do que sente,encarar as verdades e de expor totalmente o nu e cru para vida. E essa ausência de intensidade me deixa vazia. Não existe nada mais delicioso do que entender as entrelinhas. De entender e de sentir a outra pessoa.De ficar na mesma sintonia, de praticamente conversar por pensamento. Sinto falta da sintonia, da cumplicidade e do prazer de sentir prazer em ter uma companhia para as conversas da madrugada.

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    1. Infelizmente , darling Darlin a maioria vive na média. Na média das emoções , na média da intelectualidade ...a maioria vive amores mais ou menos , amizades sem sal nem pimenta e detesta se expôr porque quem se expõe sai da média e a média é confortável em seu incômodo. Vc devia fazer um curso de arte...sei lá...entrar em algum meio onde a probabilidade de encontrar pessoas mais viscerais fosse maior!

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